Entrada do Labirinto

Acredito que, de todas as vezes em que eu havia topado ir em algum lugar com Guillermo e Brittany, os filhos de Hermes, aquela havia sido a primeira em que realmente fiquei com medo. Eles me disseram que existia uma entrada para o labirinto, que nada mais era que o labirinto do próprio Dédalo, ali no acampamento. E, ainda de acordo com os dois, todo dia às cinco da tarde um sátiro tocava uma flauta e abria a passagem para que uma pessoa adentrasse o local. Só que muitas vezes monstros saíam do labirinto, então a diversão era ir apostar se isso aconteceria ou não.

Primeiro estranhei o fato da entrada estar próxima ao Punho de Zeus. Segundo, achei que poderíamos nos esconder no topo de alguma árvore, mas os dois acharam mais apropriado ficarmos atrás de uma rocha grande. Uma vez lá, fiquei surpreso ao ver a chegada do sátiro e ter a certeza de que eles não estavam mentindo. Meu coração acelerou na hora. Eu não tinha medo de lidar com monstros, mas as histórias do tal labirinto diziam que as coisas mais perigosas do mundo estavam perdidas lá dentro.

— Dez dracmas se você for até lá e falar pro sátiro que quer entrar no labirinto — Brittany desafiou, seguindo nossa brincadeira de propor desafios em troca de grana.

— Eu não trouxe meu arco. Tem certeza que é seguro? — perguntei aos dois, nervoso.

— Sim, relaxa. Só vai — ela disse, me dando tapinhas encorajadores nas costas.

Temendo por minha reputação como corajoso, saí de trás da pedra e fui até onde o sátiro estava. Eu era carismático o bastante para me safar de qualquer situação. Portanto, se algo desse errado, eu poderia simplesmente culpar algum dos outros envolvidos. Com isso em mente, me posicionei à frente do jovem peludo que havia acabado de sacar a flauta.

— Hey! Eu vim para entrar no labirinto — anunciei.

O sátiro deu de ombros e começou a tocar uma melodia incomum com a flauta. Cerca de dez segundos depois, ouvi um barulho estranho vindo das pedras onde supostamente a entrada estava. Ao me virar, vi um coisa peluda e alta sobre uma rocha, no que ela saltou sobre mim e eu gritei e corri assustado. Só depois que fui notar que era uma fantasia barata de pé grande, ao passo em que Gui e Brittany saíram rindo de onde estavam escondidos.

Eu reconheci o garoto dentro da fantasia do chalé de Hermes, quando ele tirou a parte de cima dela. Ao que tudo indicava, os quatro — incluindo o sátiro — tinham armado aquela pegadinha.

— Eu disse que ele ia gritar. Vai, me paga quinze dracmas, Gui — a garota falou.

Era impossível para uma pessoa não se irritar ao descobrir que tinha sido vítima de uma pegadinha de mau gosto. Certo que estávamos naquela competição que envolvia os mais variados tipos de desafios inusitados. Porém, eles tinham forjado aquela situação para propor o desafio em cima dela. Desafio que, na verdade, ficou óbvio que tinha o único intuito de me fazer passar vergonha; ou provar o ponto de que, como Gui mesmo falou: eu não era tão "bonzão" assim. Portanto, fiz uma cara séria e encarei a dupla de Hermes, conforme o sátiro e o garoto vestido de pé grande se afastaram para conversar algo.

— Parabéns, conseguiram me assustar. Ha-ha — falei, puto. — Meus dez dracmas. — Estendi a mão direita a Brittany, cobrando o que ela tinha me prometido se eu fizesse que fiz.

— Nossa, tá putinho? Foi só uma zoeira. Relaxa, eu hein — a semideusa falou, pegando as moedas douradas para me pagar.

— Zoeira? E se algum monstro tivesse saído de verdade do labirinto? Eu não tô com meu arco aqui pra proteger a gente — respondi, levantando meu tom de voz.

— Ei, abaixa tua bola. Ninguém aqui precisa da sua proteção não, maluco — Brittany aumentou o tom de voz também.

Encarei Guillermo, que até então não havia dito nada. Não consegui identificar que expressão era aquela que ele tinha estampada no rosto. Todavia, movi minha cabeça em sua direção e depois na de sua irmã, como quem dizia "você não vai falar nada?". Para mim, ele teria bom senso e entenderia que tinham feito merda e pedido desculpas.

— Você entendeu, garota.— falei, revirando os olhos em seguida.