Agonália [Fixas] Angelique Bittencourt

Era naquele momento, na calmaria em meio ao caos, que ela se sentia bem. Ainda que possuísse uma rotina agitada no Acampamento Meio-Sangue, com atividades que visavam aprimorar tanto suas habilidades semidivinas adormecidas, como sua mente e corpo para os combates em missões, apreciava ter um momento para si própria. Naquele breve instante, enquanto conversava trivialidades no chalé de Eros, com uma de suas amigas, Angelique Bittencourt, ela poderia ser apenas Valerie.

Contudo, em seu âmago, a prole de Afrodite sabia que tal distração não duraria muito tempo. Era como uma coceira incômoda, um aviso do fundo de seu ser, que a alertava que o caos logo retornaria. O primeiro aviso veio por meio de gritos, cujas vozes desconhecidas interromperam abruptamente a conversa que outrora Valerie estava tendo com Angelique. Com os sentidos em alerta, logo voltou os olhos para a amiga, imaginando o que ou quem era responsável pelos clamores acalorados.

Antes que tomasse o primeiro impulso para verificar a origem da gritaria, avistou Quíron vindo na direção onde ela e a outra garota estavam. Com o semblante apreensivo, o centauro informou que o Acampamento estava sofrendo um ataque de monstros, acampados nas proximidades do Acampamento. Franzindo o cenho em espanto, a prole de Afrodite agradeceu ao centauro pelo aviso e novamente virou o rosto na direção da amiga, dando-lhe um aceno energético em resposta à pergunta que lhe era fora feita.

Girando o anel de prata no dedo indicador, ela seguiu Angelique para fora do chalé. Fora do recinto, pôde notar o transtorno causado por aquele ataque. Enquanto caminhava para o epicentro do combate, alguns campistas machucados passavam por si, em macas providenciadas por filhos de Apolo. Outros amontoavam-se em pequenos grupos, unindo estratégias para saírem vitoriosos.

Em certo ponto do caminho, os primeiros monstros apareceram.  De imediato, retirou o anel do dedo e apertou a pedra ametista que adornava o acessório; no minuto seguinte, em sua mão, surgira um chicote de couro com pontas de bronze celestial, cujas lâminas eram embebidas em veneno. Após envolver a empunhadura com os dedos firmes, Valerie deu um suspiro profundo e concentrou sua mente para a batalha que viria.  

— Quando você estiver pronta, Angel. Estarei logo atrás de você. — Respondeu prontamente, olhando para a loira com um brilho de determinação nos olhos claros. Após envolver a empunhadura de Strahl com os dedos firmes, deu um suspiro profundo e concentrou sua mente para a batalha que viria. Como previra, não demorou muito para que duas harpias aparecessem em seu campo de visão, tomando ambas as garotas como alvos. Deixando que a prole de Eros fizesse o primeiro ataque, Valerie ergueu o chicote, mirando as lâminas da arma na segunda harpia.

armamento:

Valerie sabia que aquela luta não seria tão fácil quanto havia imaginado. Soube daquele fato assim que seu instinto aflorou, tremendo-lhe até os ossos. Ou então, o temor era apenas consequência dela estar frente a frente com um monstro, que poderia lhe matar caso ela cometesse a menor das falhas.

Em seu âmago, esperava que não cometesse nada de grave enquanto se concentrava em meio ao caos que havia se instalado no Acampamento, ao mirar os flagelos do chicote na segunda harpia, que estava pronta para avançar em sua direção. Para sua ventura, os fios se enrolaram na perna esquerda do monstro, que soltou um grito agudo quando sentiu as pontas do chicote cravarem na área da coxa.

Ágil, a semideusa logo puxou a arma a seu favor, tentando fazer a harpia perder o equilíbrio, contudo, aquilo não fora o suficiente. Talvez, por não ter a força necessária para tal ação, ela viu com desgosto a criatura puxar os flagelos até ficar livre dos mesmos. Com o coração retumbando forte no peito, Valerie esperou que ela alçasse voo, tendo como objetivo atacar a prole de Afrodite mais de perto.

Ainda que aquela fosse uma ideia praticamente suicida, a loira esperou, precisando de pouco para atiçar a raiva do monstro, que logo fez o que ela esperava. Ignorando o grito furioso lançado para si, ela esperou a harpia diminuir a distância entre ambas até o instante em que ela não poderia fazer qualquer desvio de voo. Quando sua estratégia foi feita, ela moveu o corpo para o lado, até sentir o impacto contra o chão. Ignorando a leve dor que sentia no ombro direito, logo se levantou e esticou o chicote, procurando de forma afoita sua adversária. Encontrou-a também no chão, praguejando alto contra si.

Sem esperar que a outra se levantasse, a prole de Afrodite ergueu sua arma e direcionou-a novamente para o monstro, mirando as pontas da arma no pescoço. Embora soubesse que, naquele momento, atingiu algo tão vital fosse difícil, Valerie não hesitou em tentar. Aproveitando que a harpia ainda estava momentaneamente distraída pela queda que sofrera, a semideusa rapidamente moveu os flagelos em direção ao pescoço do monstro. Tal ataque, contudo, não fora tão bem executado, considerando que a criatura logo se protegeu com uma de suas asas.

Reprimindo um gemido de frustração, ela tomou distância, aproveitando que Angelique estava cuidando do outro monstro que ali estava. Com os olhos fixos na harpia que se levantou, novamente ela esperou, vendo-a erguer as garras e soltar um rosnado alto. Também ignorou o arrepio que atravessou seu corpo quando viu os dentes pontiagudos e a promessa de que iria ser devorada.

Novamente, deixou que a distância entre ambas diminuísse até que pudesse realizar um novo desvio. Daquela vez, entretanto, recebera de presente corte de garras em seu braço esquerdo, o que a fez soltar um som estrangulado de dor. Fora o preço a se pagar assim que teve a chance de enrolar o chicote no pescoço do monstro, utilizando da pouca distância entre ambas.

Quando percebera que a arma estava bem presa, notou que a harpia direcionou as mãos até o objeto, tentando se soltar. Tomando coragem ao ver o desespero nos olhos alheios, Valeria puxou a arma o mais forte que conseguira, ignorando o mais bravamente que pode toda a dor que veio depois. Somente parou com o puxão quando os gritos e impropérios vindos da harpia pararam e, sem mais fôlego, explodiu em uma nuvem de poeira dourada.

Em resposta, a loira cambaleou e quase foi ao chão novamente, não acreditando que havia ganhado uma luta. Embora estivesse sentindo dor, a euforia tomou conta de si e ela sorriu, virando o rosto em busca da prole de Eros. Angelique não tardou em aparecer em seu campo de visão, aparentemente tendo conseguido sair vitoriosa de sua própria luta. Ainda com a adrenalina correndo pelo corpo, Valerie teve que se concentrar para escutar o que a amiga estava dizendo, tendo entendido apenas o final.

— Oh, claro. Eu também me machuquei. — Disse, mostrando a garota o ferimento em seu braço esquerdo, cujo sangue destacava-se na tez clara, manchando ainda a camisa laranja do Acampamento. Para desgosto de Valerie, o tecido que outrora protegia o antebraço esquerdo estava todo destruído. Fazendo uma careta de dor, ela ergueu os braços, ajudando Angelique a estacar o machucado que sofrera. Enrolou o braço machucado da amiga da melhor forma que conseguira.

Ao fim, retribuiu ao sorriso que lhe fora dado, apreciando o bom trabalho que havia feito. — Acho que está bem enfaixado. É o melhor que pude fazer. — Murmurou, dando de ombros. Naquele instante, a expressão outrora serena novamente se transformou em uma careta de dor. — Ainda tem o suficiente para me ajudar com isso? — Perguntou, referindo-se às bandagens restantes, ao mesmo tempo em que movia o braço machucado para ela.

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